Afinal, o que é Racismo Ambiental? Entendendo a Interseção entre Justiça Social e Sustentabilidade.
Apesar da responsabilidade sobre ações contra a crise climática ser coletiva, os impactos dessa crise não serão sentidos da mesma forma por todos. Essa é a injustiça ambiental que existe e persiste desde que o mundo é mundo. Os mais impactados não estão nas esferas de decisão e nem mesmo estão representadas nas nações do norte global, que são as responsáveis pela maior parte das emissões de carbono do mundo.
Há algum tempo que o termo ‘Racismo Ambiental’ vem aparecendo nos noticiários, nas agendas ambientais e nas discussões sobre o clima na ONU. Mas afinal, o que é Racismo Ambiental?
Cunhado por Benjamin Chavis, ativista americano de direitos civis, o termo ‘Racismo Ambiental’ surgiu nos Estados Unidos em um contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais. Começou quando Chavis constatou que resíduos tóxicos eram depositados no estado da Carolina do Norte, onde vivia a comunidade negra da região. No final dos anos 70 e início dos anos 80, analistas constataram que 75% dos aterros desse tipo no sudeste dos Estados Unidos localizavam-se em bairros habitados por negros, embora nessa mesma região eles representassem apenas cerca de 25% da população.
Desta forma, o termo é utilizado para se referir ao processo de discriminação que populações periferizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem através da degradação ambiental. A expressão denuncia que a distribuição dos impactos ambientais não se dá de forma igual entre a população, sendo a parcela marginalizada e historicamente invisibilizada a mais afetada pela poluição e degradação ambiental.
De forma mais prática, ‘Racismo Ambiental’ é qualquer política, prática ou conduta que afeta ou prejudica diferentemente (intencionalmente ou não) indivíduos, grupos ou comunidades, com base em raça e cor.
Para Rita Maria da Silva Passos, especialista em Sociologia Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o termo racismo ambiental se refere “à carga desproporcional dos riscos, dos danos e dos impactos sociais e ambientais que recaem sobre os grupos étnicos mais vulneráveis”, mostrando que nem mesmo a destruição do planeta acontece de forma democrática.
No Brasil, o racismo ambiental fica bem mais aparente nos desastres ambientais, como no caso das tragédias envolvendo grandes empreendimentos de mineração. Foi o caso, por exemplo, do rompimento da barragem de mineração de Fundão, em Mariana em Minas Gerais.
O acidente em Mariana provocou 19 mortes e liberou cerca de 45 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, devastando o Rio Doce e atingindo o oceano no Espírito Santo. A lama tóxica tomou conta das águas, matando peixes e a subsistência de comunidades ribeirinhas. A água não era apenas a fonte de animais, mas também era usada para beber e irrigar plantações.
Em casos como o de Mariana, o que podemos observar é um padrão nas populações mais afetadas: são populações de baixa renda, comunidades majoritariamente negras, indígenas, quilombolas, pesqueiras, caiçaras, populações ribeirinhas, entre outras.
Atualmente, a desigualdade na cobertura de serviços de saneamento básico segundo a cor ou raça, o despejo de resíduos nocivos à saúde em regiões de vulnerabilidade social, a grilagem e a exploração de terras pertencentes a povos locais e tradicionais são exemplos da manifestação do racismo ambiental.
Não é possível fechar os olhos aos impactos do racismo estrutural, também em suas dimensões ambientais e climáticas, em uma sociedade tão desigual e excludente como a brasileira. Se não adotarmos uma visão que considere os impactos distintos, não será possível, de fato, entender os danos das mudanças climáticas.
E o que precisa ser feito? Para buscar ações que envolvam uma transição justa para uma sociedade de zero emissões, é preciso rever os contextos histórico, político e econômico em que os problemas sociais e ambientais estão inseridos. Precisamos, sobretudo, priorizar as populações mais vulneráveis às ações de mitigação e adaptação desses impactos que já são nossa realidade.
Referências:
IBGE. Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf.
ECOA UOL. Racismo Ambiental: Por que algumas comunidades são mais afetadas por problemas ambientais? Futuro depende do fim da desigualdade. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/racismo-ambiental-comunidades-negras-e-pobres-sao-mais-afetadas-por-crise-climatica/.
EL PAÍS. COP26: por que é urgente considerar o racismo ambiental e climático. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-10-27/cop26-por-que-e-urgente-considerar-o-racismo-ambiental-e-climatico.html.
JORNAL DA USP. Racismo ambiental é uma realidade que atinge populações vulnerabilizadas. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=477735.