Explorando a Agroecologia: Conheça sua História, Definição e Princípios Fundamentais

Você tem fome de quê? A alimentação é a base da saúde, ninguém duvida da sua importância. Mas a que custo devemos produzir os alimentos? Se for a custo de poluir águas e degradar solos, não vale a pena.
Parece óbvio, mas não é simples. Alimentar inteiras nações requer conhecimento, planejamento e ciência. A agricultura convencional bem sabe disso, tanto que, em defesa de uma produção abundante e segura, justificam-se certos meios de produção agrícola, sobretudo agrotóxicos:
* herbicidas, que matam ervas daninhas;
* inseticidas, que destroem as pragas;
* e outras tecnologias de melhoramento genético (OGM) que faz culturas renderem mais, serem mais resistentes às pragas e ou conseguirem melhores sabor, cor, etc.
Se uma praga comer sua plantinha de hortelã em casa, tudo bem, acontece! Mas se uma praga comer hectares e hectares de plantações, não está tudo bem! A fim de minimizar perdas e melhorar a produção, a agricultura convencional usa suas ferramentas. O problema é quando chega o ponto onde o feitiço se volta contra o feiticeiro. Assim, fazendo uma analogia, tem-se que a agricultura convencional provou do próprio veneno, literalmente! As substâncias tóxicas usadas para combater ervas daninhas e pragas contaminaram solos, águas e mataram polinizadores (sem contar a questão humana: agricultores intoxicados, casos de câncer, etc).
Então, eis que surge uma alternativa que consiste em voltar ao velho modo de plantar alimentos, capaz de alimentar a todos, mas em pequenas escalas: a agroecologia.
O que é agroecologia?
O termo foi definido pela própria FAO (Food and Agricultura Organization of the United Nations):
"A agroecologia é uma abordagem holística e integrada que aplica simultaneamente conceitos e princípios ecológicos e sociais para o desenho e gestão de sistemas agrícolas e alimentares sustentáveis. Procura otimizar as interações entre plantas, animais, humanos e o meio ambiente, ao mesmo tempo em que aborda a necessidade de sistemas alimentares socialmente equitativos nos quais as pessoas possam escolher o que comem, como e onde é produzido."
Ou seja, é um sistema de produção de alimentos que respeita o meio ambiente e os ecossistemas, a fim de garantir a sustentabilidade da agricultura, pois, somente através de interações positivas entre plantas, animais, homens e meio ambiente, é possível garantir segurança alimentar e futura. Ao contrário, águas e solos, fundamentais para a agricultura, estarão escassos ou contaminados.
Para entender melhor e resumidamente, conheça os princípios da agroecologia, segundo a FAO:
Os 10 Princípios da Agroecologia
1. Diversidade;
2. Cocriação e compartilhamento de conhecimento;
3. Sinergias;
4. Eficiência;
5. Reciclagem;
6. Resiliência;
7. Valores humanos e sociais;
8. Cultura e tradições alimentares;
9. Governança responsável;
10. Economia circular e solidária.
Breve história da agroecologia
No início do século XX, já se falava em agroecologia, referindo-se ao uso de princípios ecológicos no cultivo da terra. Mas na década de 1970 o conceito adquiriu um caráter "político", graças ao impulso dos movimentos camponeses que se opunham à Revolução Verde.
Revolução verde, apesar do nome enganar, começou em 1960 nos Estados Unidos e foi um período marcado pela expansão de programas agrícolas, que visavam o aumento da produção de alimentos pelo uso da mecanização da mão-de-obra e toda base da agricultura convencional que vemos hoje (sementes geneticamente modificadas, uso de fertilizantes, agrotóxicos, mecanização da irrigação, semeadura, etc).
Apesar de promissora, a Revolução Verde começou logo a dar sinais de problemas como erosão do solo, desmatamento, poluição, entre outros. Assim, a agroecologia foi a alternativa natural à Revolução Verde e tornou-se com o tempo não apenas um conjunto de técnicas de produção de alimentos, mas uma ferramenta capaz de mudar as relações de poder na sociedade, valorizando a dignidade do trabalho rural, privilegiando o território, a biodiversidade e os mercados locais, em oposição ao comércio global.
A agroecologia é, portanto, um movimento social, muito além de técnicas de cultivo de alimentos. A valorização dessa abordagem na agricultura é fruto de uma evolução histórica, científica e cultural.
A diferença entre agroecologia e agricultura orgânica
E é exatamente aí que mora a maior diferença entre agroecologia e agricultura orgânica. A agroecologia está mais para um movimento social de economia local e circular, enquanto a agricultura orgânica pode inclusive ser aplicada em sistemas de grandes escalas, como monoculturas e exportações de produtos em massa.
Embora produtos orgânicos possam ser de origem agroecológica isso não é uma regra. Algumas grandes marcas da indústria do alimento vendem, ao mesmo tempo, produtos convencionais e orgânicos, ou seja, a lógica é capitalista e não social.
Como e onde comprar produtos da agroecologia
Não é difícil nas pequenas cidades: basta sair por aí e encontrar as hortinhas do bairro, as feirinhas do produtor rural que vende diretamente ao consumidor. E mesmo nas grandes cidades também é possível encontrar tais produtos.
De qualquer forma, existem selos de certificação agroecológica (que é diferente da certificação orgânica). Alguns produtos podem exibir inclusive ambos os selos. Na agroecologia se certifica que a produção é pequena e justa (fair trade); já o selo orgânico garante pouco ou zero uso de insumo agrícola (agrotóxico).
Seja como for, agroecologia é comprar do pequeno produtor rural, familiar, local, que respeita a terra onde vive e planta, pois entende que dela precisa para o sustento próprio, e do planeta.