Pobreza Menstrual: Entenda as Consequências Sociais, Econômicas e de Saúde Menstrual
Menstruação sempre foi um tabu, isso é fato. Vamos falar sobre pobreza menstrual e suas consequências físicas, sociais, psicológicas e econômicas para as milhares de pessoas com útero que menstruam no Brasil, e não têm acesso às condições mínimas necessárias para haver dignidade menstrual.
O que é pobreza menstrual?
Quem pensa que pobreza menstrual é a falta de dinheiro para comprar absorvente higiênico, está enganado. Antes fosse "apenas" isso. Pobreza menstrual se caracteriza pela falta de condições de viver o período da menstruação com dignidade, e isso não é "apenas" uma questão financeira.
Para milhares de jovens e adolescentes no Brasil (estima-se 713 mil) não faltam apenas absorventes, mas serviços básicos de higiene em suas próprias casas, ou seja, água e sabonete, chuveiro e sanitário.
Também falta coleta de lixo, saneamento básico, eletricidade. Como se não bastasse, além da falta de infraestrutura, a falta de conhecimento sobre a própria menstruação também configura pobreza menstrual.
Informações sobre a Tensão Pré-Menstrual; dor de cabeça, cólicas menstruais, irritabilidade, etc, bem como o acesso a tratamentos para amenizar esses distúrbios (ainda que naturais) são direitos que muitas pessoas não têm no Brasil e no mundo.
Dignidade menstrual
Ter acesso a informações sobre a menstruação e infraestrutura para viver o período menstrual com tranquilidade, sem dignidade, o ciclo menstrual pode ser um período de reclusão social, com consequências psicológicas e sociais graves.
As meninas começam a menstruar aproximadamente a partir dos 11 anos, sendo a média, no Brasil, aos 13. Esse é um período importante de grande socialização que acaba sendo muito prejudicado com a pobreza menstrual.
Vergonha de o sangue aparecer e falta de recursos econômicos, faz com que muitas meninas e meninos trans improvisem jornais, panos velhos, folhas de plantas, de tudo para absorver o sangue menstrual, podendo provocar doenças pela falta de higiene.
As consequências da pobreza menstrual
A pobreza menstrual causa baixa autoestima, baixa autoconfiança e prejudica o desenvolvimento socioemocional dessas pessoas. Muitas, deixam de trabalhar ou de ir à escola por não terem condições de viver o período menstrual com dignidade, pois não têm acesso à higiene adequada, a absorventes e a tratamentos para amenizar os sintomas da TPM ou do próprio período menstrual.
A falta de informação e de dinheiro para trocar o absorvente com a regularidade necessária, juntamente com os tabus que giram em torno desse período, faz com que muita gente viva a menstruação como se estivesse vivendo uma doença, cheia de estigmas e restrições.
Educação menstrual
Todas as pessoas que menstruam necessitam de informações e apoio prático para viverem a menstruação de maneira saudável psicológica e fisicamente.
Geralmente, esse apoio vem de casa ou da escola, mas há pessoas sem apoio algum.
É preciso saber o que é menstruação, é preciso quebrar mitos e tabus sobre ela. A menstruação é uma matéria de biologia estudada no capítulo da reprodução humana. Por mais que o tema seja delicado, é preciso abordá-lo da maneira mais natural possível (inclusive para os meninos trans).
O que a falta de higiene menstrual pode causar?
Além dos aspectos psicológicos (baixa autoestima, etc), a pobreza menstrual pode causar problemas de saúde por falta de higiene. Por exemplo, infecções urinárias, cistite, infecções genitais, candidíase, irritação genital (mucosa e pele), além da Síndrome do Choque Tóxico, que pode levar à morte, e que é causada pelo uso de absorvente interno sem as devidas condições de higiene ou por longo período.
A pobreza menstrual não é apenas a falta de dinheiro para comprar absorventes ou coletores menstruais. É preciso trocar os absorventes com certa regularidade, ter acesso à papel higiênico, sabonete, água e roupas limpas. A falta de higiene pode causar problemas de saúde e doenças. Quantas jovens não conseguem trocar o absorvente com a regularidade necessária?
Direitos menstruais
É um direito das meninas e meninos trans menstruarem com dignidade, tendo acesso a serviços de higiene e a tratamentos para aliviar os incômodos do período menstrual.
Também é um direito viver o período menstrual com naturalidade e sem tabus. Menstruar é natural e saudável, faz parte da reprodução humana. Menstruar não é sujo, nem errado, não é doença, nem problema.
Produtos selecionados à menstruação deveriam ser menos taxados pois são essenciais, mas para combater a pobreza menstrual, como vimos, não basta baratear o preço dos absorventes ou distribui-los gratuitamente. É preciso dar condições de higiene sendo que o acesso à água, ao saneamento básico, à coleta de lixo, bem como à alimentação, à saúde, à educação e à segurança... é um direito de todos.
Que todas as pessoas possam viver a menstruação com dignidade.