Sistema Agroflorestal: Um caminho para reduzir as emissões de carbono
Oscilações de temperatura, com calor intenso e forte frio foras de época, secas intermináveis, chuvas torrenciais e enchentes. Estes são algumas das consequências das mudanças climáticas e do aquecimento global, provocado essencialmente pelas emissões de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), o metano e o óxido nitroso.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões, das Nações Unidas, revelou que, caso as emissões anuais de GEEs não forem reduzidas pela metade até 2030, dificilmente conseguiremos manter o limite de aumento de temperatura em 1,5 °C, em comparação aos níveis pré-industriais, até o final do século. Considerando a situação atual, o mundo caminha para um aquecimento de 2,7 °C até o final de século.
Os números reforçam a necessidade de descarbonizar as economias de todo o planeta e, no caso do Brasil, revisar os modos de produção da agropecuária e das mudanças de uso do solo.
No Brasil, estima-se que cerca de 73% das emissões de gases de efeito estufa são provenientes das mudanças de uso do solo (desmatamento e queimadas) e de atividades agropecuárias, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEG). A SEEG é uma iniciativa do Observatório do Clima que realiza levantamentos anuais a partir de dados de relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.
Somos o país com o maior potencial no mundo para exercer um papel ativo e ser protagonista na mitigação das mudanças climáticas. Mas o que falta para esse caminho? Para alcançarmos as metas assumidas no Acordo de Paris é necessário conter o desmatamento e, principalmente, mitigar as emissões com uma economia de baixo carbono na agricultura.
É aí que surge o Sistema Agroflorestal!
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) surgem como um sistema de uso e ocupação do solo que consiste em aliar o plantio de árvores com culturas agrícolas e/ou animais em uma mesma área, garantindo a conservação dos recursos naturais e a produção de alimentos e madeira. No sistema agroflorestal, reúnem-se culturas agrícolas associadas a espécies florestais e vão desde sistemas simplificados, formados por poucas espécies, até os mais biodiversos e complexos.
Esse sistema permite que em uma mesma área podemos ter em uma época do ano uma cultura de grãos, como soja e milho. Após a colheita, na entressafra, é possível cultivar uma forrageira que serve de pasto para os animais, e assim a prática contribui para a produção de carne. Sem contar que em sistemas mais complexos pode-se colocar árvores dentro da lavoura, o que possibilita, de tempos em tempos, produzir madeira.
Além de restaurar áreas degradadas, proteger o solo e melhorar a biodiversidade local, esse processo natural ajuda na regulação climática e conservação dos recursos hídricos, fatores que favorecem a ampliação dos estoques de carbono (CO2) nesses locais. Cada hectare de mata preservada no SAF é capaz de estocar, em média, 66 toneladas de carbono.
O armazenamento de carbono no solo aumenta consideravelmente por causa do não-uso de fogo no preparo da área, do não-revolvimento do solo, do uso de fertilizantes orgânicos e da adição de matéria orgânica rica em carbono vinda de biomassa das outras espécies plantadas. Isso faz com que as emissões sejam muito menores em comparação à monocultura e ainda contribui para o mercado de crédito de carbono.
Assim, o SAF entrega valor agregado muito além da cultura. Uma relação ganha-ganha-ganha, onde é bom para o produtor, para a sociedade e para o meio ambiente.
Referências:
BRACHTVOGEL, C.; FERNANDES, A. C. de Q.; NIEDACK, L. O. C.; PEREIRA, Z. V.; PADOVAN, M. P.. Sistemas agroflorestais biodiversos: potencial para sequestro de carbono. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1104556/sistemas-agroflorestais-biodiversos-potencial-para-sequestro-de-carbono.
EXAME. Uso da terra e agropecuária respondem por 73% das emissões brasileiras. Disponível em: https://exame.com/negocios/terra-agropecuaria-emissoes-brasileiras/.
UFPB. UFPB analisa emissão de CO2 pelo solo e propõe sistema agroflorestal para recuperar áreas degradadas no Brejo da PB. Disponível em: https://www.ufpb.br/ufpb/contents/noticias/ufpb-analisa-emissao-de-co2-pelo-solo-e-propoe-sistema-agroflorestal-para-recuperar-areas-degradadas-no-brejo-da-pb.